
Kwa “fulanu” é o título com que presenteio os meus estimados leitores, que incansavelmente procuram descobrir novidades sobre as duas ilhas maravilhosas do equador, São Tomé e Príncipe. Não é uma novidade propriamente dita, porém retrata em certa medida o perfil de um presidiário, e aborda questões sobre os afamados “poderosos” que gerem e geriram a máquina económica e financeira no nosso querido país desde a independência, em 12 de Julho de 1975.
A cena que passo a contar mais adiante daria uma bela curta-metragem nas salas de cinema, embora se tratasse de um dos episódios correntes na nossa terra e que, infelizmente, para a maioria da população não lhe traz benefícios nenhuns. Quando se diz por aí que o carro de “marca” – topo de gama, vivendas, mansões, “glebas”, “vivenxas”, bombas de gasolina, hotéis, restaurantes, lojas, etc., são bens pertencentes a um cidadão ngandu, que outrora não tinha onde cair morto – “ome se xilola”, mas que após uma curta passagem pelo antro do poder, passa a ser considerado de cidadão de classe média-alta, o “pesado”, o “boss”, gente “importante” – nge godo, com influências em todos os sectores que se pode considerar chave da Nação, mandando e desmandando ao seu bel-prazer, na verdade isso não corresponde a realidade dos factos. Os desempregados políticos e outros ngandus passam o seu tempo na diáspora à procura de “amigos” empresários para lhes facultar bons “negócios”, à custa do bem público que, como é do conhecimento geral, não pertence a um só indivíduo, mas sim um conjunto de elementos de uma comunidade, que com o sangue e o suor contribuem para o desenvolvimento da economia de um Estado.
Na prática, as “limpezas” arbitrárias e livres que efectuam ao património do Estado é que lhes garante esse bem-estar, essa demonstração de poder, conduz à arrogância, prepotência, o que faz com que a maioria da população pobre e faminta lhes atribua esses títulos e julgue até que nasceram com o traseiro virado para a lua, devido a imensa “sorte” que tiveram ao longo das suas vidas. Entretanto, se fizermos um balanço orçamental daquilo que auferiram enquanto exerciam qualquer cargo de relevo no governo, e outras fontes de rendimento não declaradas nas finanças, e em contas offshore, pode-se constatar de que nunca foram mais do que larápios. Em grosso modo, deduz-se que quase tudo o que têm logo que assumem uma responsabilidade pública ao mais alto nível pertence ao povo. Por isso, no meu vocabulário, as propriedades, empresas, contas chorudas no exterior, bombas de gasolina, os carros todo-o-terreno, etc., não são como se diz em foro «kwa “fulanu”», mas sim kwa povo!
Num belo dia, passava por um aeroporto e qual não é o meu espanto, quando vejo um foro ngandu de casaco e mala de viagem, com a sua barriga grande e seu rosto que mais se parecia com um curandeiro das cavernas, porém transpirava felicidade e o seu ânimo de "homem de negócios", "empresário", estava no auge. Mal se notava mínima preocupação em relação aos problemas de carenciados e injustiças em São Tomé e Príncipe. Ele já é um injusto em pessoa! Portanto, contra factos não há argumentos! A sua maior preocupação era tratar da sua vida mesquinha e procurar “contactos” com pessoas influentes, de forma a garantir que a sua bomba de gasolina não parasse de brotar o mineral precioso e que ele facturasse muitos milhares de dólares. Os seus olhos encontram-se postos nos blocos de “Ouro Negro”, nos directores da Agência Nacional de Petróleo, nos potenciais investidores norte-americanos, portugueses, franceses, etc., que para ele pouco importa, porque o essencial são as comissões que poderá tirar enquanto rubricam propostas de “contratos” com empresas de prospecção e afins, relacionados com os hidrocarbonetos. Assim que escuta rumores sobre supostos interessados na nova riqueza do país, esse desequilibrado não dorme, passa noites em claro, com se o dia nunca mais chegasse…
A bomba de gasolina e outros negócios obscuros com o petróleo fazem parte dos seus esquemas, para engrossar as somas que conseguira retirar dos cofres do Estado são-tomense, enquanto exercia cargos de mais elevada responsabilidade política e governamental. Certos ngandus que se constituíram bandos para sacar algum dividendo na exploração do "Ouro Negro" em São Tomé e Príncipe são proprietários de empresas ligadas ao sector de fornecimento e distribuição de combustíveis. Mas para além destes, muitos "ex-dirigentes" são igualmente "empresários", têm táxis na praça, lojas de conveniência (onde vendem bens desviados do Programa Alimentar Mundial, bens do GGA - Gabinete de Gestão de Ajudas, etc.).


É uma tristeza ver esses miseráveis tirarem proveito do desespero de pobres coitados e, tal como o diabo, castigá-los sem razão aparente. Sobretudo, os que trabalham dia e noite à procura de pão para dar de comer aos seus filhos. Eles se esquecem que têm filhos e que não viverão para sempre. Um dia terão que abandonar essa vida de assaltantes das contas públicas e de burlões, depois que forem chamados a prestar contas com o capeta.
Enquanto fazem mal ao povo, ao "pequeno", que merecem o mesmo que proporcionam aos seus entes queridos, não se esqueçam que também têm filhos, mulheres e netos...
Hoje, podem ser ricos, mas amanhã quem saberá? No inferno, são aguardados senhores… “Alá” - Iyemanja não dorme!
WC, April 26
Jykiti Wakongo