Saturday, April 26, 2008

KWA "FULANU"

KWA “FULANU”

Kwa “fulanu” é o título com que presenteio os meus estimados leitores, que incansavelmente procuram descobrir novidades sobre as duas ilhas maravilhosas do equador, São Tomé e Príncipe. Não é uma novidade propriamente dita, porém retrata em certa medida o perfil de um presidiário, e aborda questões sobre os afamados “poderosos” que gerem e geriram a máquina económica e financeira no nosso querido país desde a independência, em 12 de Julho de 1975.


A cena que passo a contar mais adiante daria uma bela curta-metragem nas salas de cinema, embora se tratasse de um dos episódios correntes na nossa terra e que, infelizmente, para a maioria da população não lhe traz benefícios nenhuns. Quando se diz por aí que o carro de “marca” – topo de gama, vivendas, mansões, “glebas”, “vivenxas”, bombas de gasolina, hotéis, restaurantes, lojas, etc., são bens pertencentes a um cidadão ngandu, que outrora não tinha onde cair morto – “ome se xilola”, mas que após uma curta passagem pelo antro do poder, passa a ser considerado de cidadão de classe média-alta, o “pesado”, o “boss”, gente “importante” – nge godo, com influências em todos os sectores que se pode considerar chave da Nação, mandando e desmandando ao seu bel-prazer, na verdade isso não corresponde a realidade dos factos. Os desempregados políticos e outros ngandus passam o seu tempo na diáspora à procura de “amigos” empresários para lhes facultar bons “negócios”, à custa do bem público que, como é do conhecimento geral, não pertence a um só indivíduo, mas sim um conjunto de elementos de uma comunidade, que com o sangue e o suor contribuem para o desenvolvimento da economia de um Estado.

Na prática, as “limpezas” arbitrárias e livres que efectuam ao património do Estado é que lhes garante esse bem-estar, essa demonstração de poder, conduz à arrogância, prepotência, o que faz com que a maioria da população pobre e faminta lhes atribua esses títulos e julgue até que nasceram com o traseiro virado para a lua, devido a imensa “sorte” que tiveram ao longo das suas vidas. Entretanto, se fizermos um balanço orçamental daquilo que auferiram enquanto exerciam qualquer cargo de relevo no governo, e outras fontes de rendimento não declaradas nas finanças, e em contas offshore, pode-se constatar de que nunca foram mais do que larápios. Em grosso modo, deduz-se que quase tudo o que têm logo que assumem uma responsabilidade pública ao mais alto nível pertence ao povo. Por isso, no meu vocabulário, as propriedades, empresas, contas chorudas no exterior, bombas de gasolina, os carros todo-o-terreno, etc., não são como se diz em foro «kwa “fulanu”», mas sim kwa povo!


Num belo dia, passava por um aeroporto e qual não é o meu espanto, quando vejo um foro ngandu de casaco e mala de viagem, com a sua barriga grande e seu rosto que mais se parecia com um curandeiro das cavernas, porém transpirava felicidade e o seu ânimo de "homem de negócios", "empresário", estava no auge. Mal se notava mínima preocupação em relação aos problemas de carenciados e injustiças em São Tomé e Príncipe. Ele já é um injusto em pessoa! Portanto, contra factos não há argumentos! A sua maior preocupação era tratar da sua vida mesquinha e procurar “contactos” com pessoas influentes, de forma a garantir que a sua bomba de gasolina não parasse de brotar o mineral precioso e que ele facturasse muitos milhares de dólares. Os seus olhos encontram-se postos nos blocos de “Ouro Negro”, nos directores da Agência Nacional de Petróleo, nos potenciais investidores norte-americanos, portugueses, franceses, etc., que para ele pouco importa, porque o essencial são as comissões que poderá tirar enquanto rubricam propostas de “contratos” com empresas de prospecção e afins, relacionados com os hidrocarbonetos. Assim que escuta rumores sobre supostos interessados na nova riqueza do país, esse desequilibrado não dorme, passa noites em claro, com se o dia nunca mais chegasse…


A bomba de gasolina e outros negócios obscuros com o petróleo fazem parte dos seus esquemas, para engrossar as somas que conseguira retirar dos cofres do Estado são-tomense, enquanto exercia cargos de mais elevada responsabilidade política e governamental. Certos ngandus que se constituíram bandos para sacar algum dividendo na exploração do "Ouro Negro" em São Tomé e Príncipe são proprietários de empresas ligadas ao sector de fornecimento e distribuição de combustíveis. Mas para além destes, muitos "ex-dirigentes" são igualmente "empresários", têm táxis na praça, lojas de conveniência (onde vendem bens desviados do Programa Alimentar Mundial, bens do GGA - Gabinete de Gestão de Ajudas, etc.).


Esses estafermos viciaram todo o nosso povo ao hábito lúgubre chamado de "banho" ou “carbureto”, que é adverso às nossas tradições culturas, e que significa fazer um favor ao próximo, o mais simples que seja, sempre em troca de uns "cobres". Para além disso, o povo foi assimilando ainda comportamentos associados ao embuste sem escrúpulos, fazendo falsas promessas, aquilo com que nos foram acostumados desde a "queda" do partido único, onde mais ninguém parece querer ser honesto; o povo aprendeu a aldrabar o próximo com palavras animadoras, cheias de entusiasmos e aconchegantes, mas que com o passar do tempo se transformavam num fenómeno de frustração e de desespero latente. Este facto enquadra-se em todos os actos do cidadão comum são-tomense. Por exemplo, num casal de amantes ou namorados já não existe confiança e o respeito de parte a parte. Portanto, ninguém confessa do fundo do seu coração com dignidade e honra de que deveria revestir a sua alma, fazendo de si um cidadão exemplar, que zela pelos seus deveres e direitos aos olhos da "lei". A desordem é total!


Quanto ao comportamento do indivíduo que caracterizava no início do texto, poderia definir-se como autor de uma atitude desonesta, como a manipulação de créditos financeiros, aplicados em processos fantoches, onde proliferam de tráfico de influências, abuso de poder, usurpação de bens públicos e muitas outras atrocidades. Um dos donos de bombas de gasolina (combustíveis, para ser mais específico) que avistei num aeroporto é tal Sr. de olho viló, chamado Guilherme Octaviano Viegas dos Ramos. Esse gajo é um condenado (infractor de grau cinco, na escala de 0 -> 5; autor de vários crimes puníveis com a pena de prisão efectiva; diante de um juiz sério, deve multas, chicotadas e trabalhos forçados à sociedade são-tomense), ex-político (embora seja uma carreira ingrata, em pouco tempo se fez um "business man", é só ter boca doce com palayes e candongueiros), ex-sociólogo (uma profissão que deveria ter exercido com dignidade), ex-ministro de educação (um dos cargos mais elevados que exerceu durante poucos meses, mas que bastou para cometer transgressões gravíssimas), actual “negociante” de hidrocarbonetos (eu diria aldrabão do petróleo, porque farta-se de queixar do aumento de combustíveis, mas a sua bomba continua aberta, e até a data não declarou falência)... O tipo em questão, passa a maior parte do seu tempo a arquitectar esquemas nessa sua cabeça desequilibrada, passeia (assim como a “esposa e filhos”) pela Europa, América (continente americano), China-Taiwan e outros territórios, com o dinheiro do povo e, em seguida, aproveita para ir à busca de piratas estrangeiros, alguns brancos empresários e endinheirados que lhe possam propiciar um “contrato” milionário e assim tornar-se mais afortunado do que já é.


É uma tristeza ver esses miseráveis tirarem proveito do desespero de pobres coitados e, tal como o diabo, castigá-los sem razão aparente. Sobretudo, os que trabalham dia e noite à procura de pão para dar de comer aos seus filhos. Eles se esquecem que têm filhos e que não viverão para sempre. Um dia terão que abandonar essa vida de assaltantes das contas públicas e de burlões, depois que forem chamados a prestar contas com o capeta.


Enquanto fazem mal ao povo, ao "pequeno", que merecem o mesmo que proporcionam aos seus entes queridos, não se esqueçam que também têm filhos, mulheres e netos...
Hoje, podem ser ricos, mas amanhã quem saberá? No inferno, são aguardados senhores… “Alá” - Iyemanja não dorme!


WC, April 26
Jykiti Wakongo

3 comments:

Anonymous said...

Ah! É verdade, só se preocupam com os seus bolsos e o povo é que sofre dele só! Nós estamos a ficar cada vez mais pobres e eles a irem para palácio discutir lotes de terra para construirem as suas mansões, discutir quem fica com o carro que vão distribuir e quanto dinheiro que vão ganhar em comissões e acordos de petróleo. A cor do dinheiro de petróleo, o povo pequeno nem vê.

Essa bomba de gasolina devia arrebentar com ele nela pá... assim ia directo para o inferno!

Cando

Anonymous said...

Os antigos dirigentes políticos têm que desistir desse vício de corrupção, tráfico de influências, falsos moralismos e enveredar por um caminho digno da sua intelectualidade. O facto de se envolverem em esquemas de aproveitamento político e defenderem os seus interesses pessoais têm tido graves repercussões sobre os sucessivos governos em S.T.P.

As empresas criadas por ex-políticos ou ex-dirigentes são beneficiadas por partidos que respondem aos seus interesses. A existência de lobbies, sistemas de lavagem de dinheiro e parcearias com empreendedores europeus e americanos e outras fontes pouco credíveis ao nível mundial não têm contribuído para o desenvolvimento de cidadãos comuns. As tais individualidades enriquecem-se de forma brusca, tendo entrado para o cenário da política pobre. Quase tudo que deveria naturalmente pertencer ao estado, coisa do povo, serviços públicos, é desviado e "registado" como propriedade dos ditos senhores.

Deste modo, não se pode falar de justiça social, de democracia...

Dr. Paulo Oliveira

Anonymous said...

Ahahahahah... não me diga que o Sr. Jykiti escreveu este artigo no WC... Muito bom o seu texto. Parabéns, sou seu fã.
Hamilton