Monday, July 07, 2008

O Papel da Mulher em São Tomé e Príncipe

O Papel da Mulher em São Tomé e Príncipe


Há milhares de anos que a humanidade tem olhado para a mulher com olhos suspeitos, devido à sua capacidade quase que infinita de proporcionar a harmonia e o bem-estar no seio da comunidade, de lutar pela melhoria da condição de vida dos seus filhos, independentemente do eventual apoio por parte do cônjuge. Antigamente e, infelizmente, ainda nos dias de hoje, as mulheres têm sido usadas e abusadas sob todas as formas. De injustiças sociais, culturais ao direito da mulher enquanto ser humano, um longo caminho deverá ainda ser percorrido. A situação actual não é nada animadora. As mulheres e as crianças ainda continuam a ser vitimizadas por indivíduos sem escrúpulos, por vezes, dentro da própria casa, onde são feitas reféns, escravizadas e abusadas sexualmente. A sociedade parece pouco serena, mas em cada canto ouvem-se gritos de socorro em forma de zumbido ou observam-se lágrimas de sofrimento guardado nas almas desses seres sofredores.

Às mulheres impedidas de adquirir conhecimento paralelamente aos homens, foram lhes impostas desde tenra idade, a execução tarefas de lides domésticas e satisfação de prazeres sexuais aos seus parceiros, tratadas com uma espécie desprezível. O preconceito é tão forte que, em determinados serviços tradicionalmente frequentados por indivíduos de sexo masculino, ainda se ouvem piropos e zombarias às corajosas mulheres. Por exemplo, as mulheres foram sempre relegadas da área da mecânica (de automóveis, por exemplo), da política, da gestão de grandes empresas, das forças armadas, etc., onde raramente se aventuravam de livre e espontânea vontade. Existem até instituições que limitam o acesso de mulheres nos seus quadros, alegando compromissos permanentes (actividades de alto risco e de capital importância) e que a mulher pode não cumprir por causa das fases de gravidez e pós-parto. E ainda existe um factor discriminatório presente em muitos países que é a remuneração diferenciada consoante o sexo do profissional.

À mulher eram impostas, para além das actividades domésticas e cuidados com os filhos, as tarefas fabris, de apoio no trabalho do campo, sendo consideradas frágeis e incapazes de assumirem cargos de chefia, o que fazia com que não exercessem actividades rotuladas para machos. A exploração e a limitação dos seus direitos em determinados campos de acção eram bem evidentes. Ao contrário, para os poetas, os escritores, os músicos, a mulher serviu de inspiração para os seus trabalhos literários ou não, bem como para os pintores mais famosos do mundo nas suas melhores obras de arte. A mulher é um ser romântico por natureza, que compensa a sua metade oposta, proporcionando uma carreira de enorme prestígio, sem se ter a noção desse facto. O seu lado feminino, maternal, de mulher, contribui em grande medida para o estabelecimento de relações afectivas duradouras, conduzindo a uma evolução ao longo dos tempos na sociedade em que vivemos.

A figura materna no meio familiar tem por hábito definir o rumo das tradições que são passadas de geração em geração, especialmente, no que toca as descendentes do sexo feminino. Porém, os elementos do sexo masculino tendem a assimilar características culturais provenientes da educação transmitida pela figura materna da sua família. Apesar de actualmente a mulher são-tomense ainda constituir uma faixa da população que não é respeitada pela sociedade, de uma forma geral, pela falta de cultura intelectual das próprias mulheres que se sujeitam aos maus tratos e aos preconceitos enraizados na nossa sociedade, algumas delas vão se afirmando aos poucos em várias áreas outrora apenas destinadas aos homens. Hoje as mulheres já fazem parte do mundo da engenharia, da saúde, política, do desporto, do exército, da polícia, embora em número bastante reduzido. Com mais mulheres influentes na nossa sociedade, acredita-se que poderemos construir um mundo mais tolerante, com pão, paz e amor.


O papel da mulher em São Tomé e Príncipe ainda é pouco representativo na escala nacional e reticente quanto às aspirações de diversos grupos sociais que tendem a inibir acções de promoção dos direitos e valores das mulheres. Enquanto as mulheres e as mães são-tomenses forem aceitando de bom grado as atitudes doidivanas, de infidelidade e da não responsabilização da figura paterna no meio do agregado familiar, onde as crianças desconhecem os seus progenitores, onde não são transmitidos os melhores exemplos de conduta e de civismo, não poderemos aspirar que as nossas metas sejam atingidas. As jovens devem consciencializar-se em relação ao seu próprio comportamento de lealdade perante o seu companheiro, perante os seus familiares e perante a sociedade. Não se pode admitir que a emancipação e a intelectualização das mulheres, nos dias de hoje, sejam o sinónimo de "divertimento", falta de compromisso e confiança entre ambos os sexos. Há que haver seriedade e respeito mútuo, seguindo os princípios da ética e de bom viver, para que tenhamos uma sociedade sã, próspera e promitente.

Alerta-se a sociedade para os casos de mães adolescentes, que normalmente não possuem qualquer tipo de formação académica e cultural – dado que ainda se encontram na fase de crescimento -, chegando a ser um exagero falar-se de abusos sexuais ou pedofilia, mas o facto é que vai sendo crescente o seu número. Observa-se um agravante na capacidade de sustentabilidade por parte dessas jovens que têm crescido num meio, por si, pobre e desfavorável, sem o apoio de instituições públicas competentes, e os seus filhos (sem qualquer tipo de culpa) vão servindo de “brinquedo” e, ao mesmo tempo que vão sendo criados sem a presença paterna, enfrentam dificuldades tremendas nos seus primeiros anos de vida. Qual será o futuro que sonham essas jovens mães, muitas vezes ainda crianças? É uma incógnita. E qual será o futuro dessas crianças, filhos de mães adolescentes? Que futuro para a família são-tomense? Parece que há muito que ela deixou de fazer sentido e temos tantos parentes que desconhecemos, tão próximos e tão distantes ao mesmo tempo. Um progenitor tem várias parceiras e os meios-irmãos são por vezes desconhecidos entre si. É uma prática comum e tem feito valer a poligamia, o poder do machista sobre as mulheres que são submissas. Como solucionar esses problemas na nossa sociedade?

É bom que as mulheres são-tomenses revejam as lacunas que são bem visíveis a olho nu, se dêem ao respeito e respeitem a família, as mais velhas transmitam os valores básicos da vivência numa família, para o próprio bem delas e pela enorme importância que têm na perpetuação da espécie humana e na propagação dos valores tradicionais associados à nossa cultura.


19/06/08
Dra. Belinda Wakongo

No comments: