Friday, May 02, 2008

SUDU

SUDU

O povo de São Tomé e Príncipe tem a fama de ser preguiçoso, de não trabalhar as suas glebas, de abandonar o Obo, deixando tarefas de esforço para os que têm vontade de trabalhar nas roças, que são poucos, e dirigirem-se para a cidade e periferias. Mas como o emprego disponível na cidade é de tipo serviços, na sua maioria, e destinado a indivíduos com alguma capacidade técnica e conhecimento académico básico, logo as probabilidades de empregabilidade são baixíssimas. E esses serviços são escassos para tantos candidatos, embora muitos desses apresentem habilitações abaixo da média, com enormes dificuldades de acesso às novas tecnologias. A grande parte dos que são admitidos não se sujeita a quaisquer testes de aptidão e são introduzidos em sectores de elevada responsabilidade por “cunhas”. Logo, não restam muitas alternativas aos que não se enquadram no “esquema” senão irem para as feiras.


Nas periferias da cidade de São Tomé, apesar do elevado número de desempregados entre os jovens, são considerados como problemas mais graves a falta de corrente eléctrica e, quase paralelamente, a falta de água potável. Até há bem pouco tempo, eram acrescidos de carência de transportes públicos e centros de saúde com técnicos especializados e medicamentos. Mas na realidade, o problema é ainda mais grave e se prende com o crescimento da população na cidade e consequente aumento de mão-de-obra em local sem preparação para a acolher (desemprego), conduzindo a uma frustração entre a camada juvenil e consequente marginalização.

Não existem fábricas, infra-estruturas e condições que propiciam a criação de emprego dentro da cidade nem nas periferias da mesma. A grande parte da necessidade da população foca-se em bens alimentares. A luta constante da maioria da população, que é constituída por jovens, é a busca do pão. A crise é tanta que, embora sabendo de as notícias tristes de fecho de centenas de fábricas e aumento vertiginoso de desemprego no exterior, a tendência para a imigração é manifestamente grande.

Enquanto não se produzir nas roças, em projectos geridos pelo Estado, não dando créditos financeiros aos pequenos “agricultores” que, após consumirem todo o capital, destroem todo o bem que encontraram nessas roças (como o corte indiscriminado de árvores), não haverá forma de suster a avalanche de procura de produtos alimentares no nosso país. Estamos à espera que se importe tudo! Até o sal para cozinha… algo que seria produzido por nós, sem grandes sacrifícios para o Estado. Se calhar, ironicamente, até compramos o sal produzido em países que não têm mar à sua volta!

Isto é incrível!


Como se sabe, no período colonial, os nossos antepassados viveram uma época de abundância. O alimento era produzido em grande quantidade em fazendas, pelos escravos, o número da população era ainda reduzido, sem contar que a ração para os escravos não era saudável, e importava-se muita coisa das outras ex-colónias que possuíam extensões gigantescas de terra fértil, com milhares de mão-de-obra escrava. Contudo, a população desprezava os produtos que se vendiam em lojas de brancos, por não haver necessidade e teriam que comprá-los. Até por que os foros eram, tradicionalmente, consumidores de fruta-pão, matabala e banana, não eram grandes apreciadores de feijão, arroz, farinha de milho. Apenas os assimilados que pretendiam viver como os colonos eram fiéis clientes, então esses produtos importados deterioravam-se em enorme quantidade, devido ao baixo consumo e eram deitados fora.


Hoje, os tempos são outros! O foro quase não vê banana, fruta-pão, matabala, etc., porque deixou de produzir! Todos aguardam pelo “milagre” vindo em navios, trazendo produtos de primeira necessidade, o que é lamentável, tratando-se de um país com elevado nível de pluviosidade. Um país como o nosso deveria produzir bens alimentares suficientes para o consumo interno e ainda para a exportação para países vizinhos, com enormes dificuldades de irrigação. Temos muitos rios e muitas ribeiras por onde a água corre durante todo o ano, entretanto, não haveria motivo para se precipitar numa aposta forte no domínio agrícola em São Tomé e Príncipe, como se tem constatado com as políticas do governo. A maior razão pela qual o nosso querido país se encontra sufocado e desesperado pela ajuda externa é a falta de trabalho humano, em locais onde se exige um desempenho sério e coordenado pelo Estado, de forma a rentabilizar um enorme grupo de jovens que vagabundeiam pela cidade, sem rumo nem beira, perdidos no tempo, aguardando a salvação do Senhor.


Pois bem, a comida não cai do céu! Sendo assim, a que tomar medidas. A sociedade deverá ser instruída a trabalhar para o seu bem-estar, e não julgar que o orçamento familiar dependerá da boa vontade de estrangeiros ou do que actualmente está muito na moda, que é a febre do petróleo. Salvo o erro, esta febre vem atingindo a população, tanto no interior do país como na diáspora, há mais de dez anos. Tendo tido lugar imensos encontros entre vários actores de ambas as partes (potenciais investidores e Estado são-tomense) em mesas de negociações, onde determinados políticos rubricaram documentos comprometedores. Os intervenientes no processo de negociação da prospecção do hidrocarboneto têm tirado partido de dividendos, em comissões, e os investimentos resultantes da fatia (daquilo que restou) que é divulgada aos meios de comunicação social são pouco esclarecidos pelo sector que controla o património do Estado, o Tribunal de Contas e pela Agência Nacional de Petróleo.


A corrida desenfreada ao enriquecimento fácil e apressado, fruto de pré-acordos com empresários estrangeiros, tem provocado um impasse técnico nos sucessivos governos (tendo sido divulgada uma notícia que referia uma alegada indemnização a ser paga pelo Estado à “Synergie” em cerca de 200 milhões de euros) e o país parece ter parado em todos os sentidos. Os mais chegados, directa ou indirectamente, aos louros dos hidrocarbonetos nesses últimos anos estão “hibernando” e vão discutindo esporadicamente quando acusados de desvios, corrupção e fraude, porém o grosso da população que é pobre, abandonou a produção nas roças, desceu para a capital e sentou-se à porta do palácio presidencial para reclamar a sua parte na “nova riqueza” da terra que lhe pertence. Como é peculiar do foro, o convite ao trabalho de mão limpa ou a uma reforma antecipada é o que lhe dá o maior dos prazeres. Não significa com isto, que outros povos também adorassem trabalhar! Não. No exterior, os brancos tendem a praticar o que se chama de “sorna” em pleno horário laboral, retomando somente perante a presença do patrão e após um café e uma cigarrada de 20 a 30 minutos.


Quando trabalhávamos para os colonos brancos, pensávamos que lhes devíamos a imolação em nome da Igreja, da “divindade”, do Senhor “Deus Pai”, para a “salvação” das nossas almas pecadoras. Se não trabalhássemos para “nós” (ou melhor, para o patrão opressor branco), que fosse para o bem do próximo. Isto é em tudo semelhante com a receita dada pelos sacerdotes em Igrejas, enviando mensagens de dúzias de rezas para as ovelhas do seu rebanho (tendo ou não confessado por pecados cometidos), de modo que elas rezassem por elas e também pelas almas de “pagãos”.


Nos dias de hoje, somos nós, os “patrões”! Não somos obrigados a trabalhar… (“o que muitos confundem com o conceito de democracia”) …e outros têm subtraído indevidamente o bem daquele que diariamente labuta para conseguir o sustento para a sua família. Toda a população quer ter uma vida facilitada, de boémia, sem suar nas suas roupas. Por isso, grande parte dela vem exercendo actividades ao nível de comércio ambulante. E quem não quer? O resultado é o que se conclui trivialmente. Todos não podem dedicar-se a uma mesma actividade. Se todos tentarem vender roupas importadas, como é que se processarão as trocas com outros bens igualmente essenciais para efeitos de ciclo natural de câmbio que envolve a vida numa sociedade? Numa economia mais básica, a posse de um produto para uma potencial troca com outro que se deseja adquirir é que significa a existência de mercado.


No cenário que temos neste momento, por causa da falta de outros canais de fornecimento de bens para efeitos de troca, torna-se impossível haver condições que sustentem uma economia auto-sustentável. As lacunas criadas em áreas de produção alimentar chave, tais como no sector agro-pecuário, pesqueiro e industrial, têm sufocado o desenvolvimento da sociedade. As consequências de carência de produtos básicos a preços acessíveis, sublinhando o factor troca de um bem por outro que não existe, provocam degradação física e até mental nos elementos da comunidade. A ausência de proteínas na alimentação das crianças, a subnutrição, por falta de alimentação saudável tem provocado enfraquecimento na saúde das mesmas tornando-as vulneráveis às doenças, desprovendo-as de defesas naturais a que o organismo humano produz.


Nesta ordem de ideias, aproveito para colocar uma questão pertinente. O que achou o governo que ganharia com a reforma de empresas agrícolas, privatizando-as, tendo em conta que possuíam a monocultura o cacau? Deve ter pensado que sendo privadas, a produção aumentaria… e depois, e outras culturas? Dada a escassez de produção e incompatibilidade salarial, muitos dos trabalhadores agrícolas foram forçados a abandonar as fazendas (empresas agrícolas do Estado) e dirigirem-se para a cidade em busca de melhores condições de vida. Afirmavam que a roça já não estava a “dar”!


Depois, surgiram rumores de que havia sido descoberto o “Ouro Negro” nos mares de São Tomé e Príncipe, que estavam todos ricos (dado o número de cidadãos versus volume de riqueza) e que não mais necessitariam de trabalhar ao longo das suas vidas. Mentira! Mas isto caiu que nem uma boa rumba nos ouvidos do foro. O facto de poder deixar o Obo com cobras e ir lá de vez em quando só para cortar uma pinha de banana, tirar uma cabeça de jaca, arrancar algumas matabalas à beira da estrada, deve ter-lhe dado uma alegria do tamanho do mundo. Desde antigamente que os foros deixavam as suas roças virarem Obo, cheias de relva alta, trepadeiras e impenetráveis, como se os respectivos donos tivessem falecido. Esses passam por lá, muito raramente, como se nada tivesse relacionado com eles, e quando vêm um vizinho seu (às vezes branco ou estrangeiro) a capinar e a plantar bananeiras, fazem troça do trabalhador, mas assim que o fruto do trabalho desenvolvido por este último estiver ao seu alcance (isto é, a banana já criada), sem o mínimo de escrúpulo o infiel estende a mão pedindo uma dúzia de banana para matar a sua fome.

Para que o foro possa deitar as mãos à obra e pegar na enxada, para produzir e deixar de se fechar em gabinetes a discutir assuntos supérfluos, deve-se dar um abanão. Sendo mais claro, a aplicação do “sudu” (estalo, bofetada) para despertar população para a dura realidade da vida. Ou seja, em foro: “Sela a da povo sudu pa e po sonbla y koda ni sono ku e sa ne!”.


W.C., May 01
J.Wakongo

5 comments:

Anonymous said...

O nosso maior problema está na falta de produção, sim! A agricultura já não é o que se esperava que fosse, dada as condições favoráveis do nosso clima. As pessoas deixaram as roças e foram viver todas para a cidade, e agora não há mercado para acolher toda a gente. A aposta na agricultura poderá ser um meio para solucionar a crise financeira pela qual o país vem sofrendo...

A.C.

KImdaMagna said...

Caríssimo!!
Sobre o artigo no Kimangola, o mesmo artigo foi iniciado por um pedido de desculpas, por não ser um historiador, quero dizer não possuir s fontes primárias que me pudessem aproximar da suposta verdade.
Escreveu sobre ser ou não científico. Tou de acordo quando poê em causa o conceito do "Descobridor" mas se calhar os europeus "chegaram" e não descobriram.Por outro lado não tenho grande ajuda quando se invoca o científico e nos pautemos pelo diz-se sabe-se etc.
Posso lhe citar a bibliografia utilizada e lá figuram sãotomenses.
Um pouco como a situação dos Angolares. assim agradeço-lhe caso me possa citar fontes primárias ou indícios atraves do relacionamento com as verdadeiras origens de São tomé.Considero no entanto que este assunto não tem rigorosamente nada a ver com cores de epiderme mas sim pela "GULA" que todos nós temos pelo dinheiro e pela tendência para a manipulação para usufruto. O ser humano que pretenda fazer análises sobre qualquer componente social e económica sustendo-as na cor da pele, limita a sua aproximação á suposta "verdade".
Permita fazer-lhe no entanto uma pergunta:
será que o facto de São Tomé ser ou não habitado e se a origem vem dos Bantus ou se se "descobriu" ou foi "encontrado" altera em algo a situação. quero dizer uma solução humanitária em que todos tenham acesso a uma vida livre?
Eu creio no princípio de que ningu~em é dono seja de terra for.

Agradeço no entanto o seu e se possível faculte-me informação histórica. Eu quero aprender.

Kimangola

Anonymous said...

Pois bem. O problema que se arrasta ao longo de dezenas de anos em S.T.P é a falta de produção no campo, nas roças, onde a população já abandonou quase por completo as antigas fazendas. O estado privatizou empresas agrícolas com a finalidade de obter uma maior rentabilidade, porém os resultados têm sido um fracasso e a população sente o impacto dessa política económica.

Os bens de primeira necessidade estão caríssimos e não forma de inverter a situação. Todos sentaram-se à beira da cidade à espera dos dividendos do negócio de exploração do petróleo. O que tem sufocado o desespero do povo, considerado um dos que vive no limiar de extrema pobreza.

Há que se tomar uma posição séria em termos governamentais, para que se possa tomar um outro rumo e mudar a tendência de deixar estar e esperar que as coisas caiam do céu. O povo de S.T.P tem de mudar a sua mentalidade de léve-léve e trabalhar no duro...

Um bem-haja!
Dr. Paulo Oliveira

Anonymous said...

Tu deves viver noutro mundo!!!

O que se passa em STomé é pura e simplesmente anarquia!!! É roubo, é descriminalização de tudo e mais alguma coisa... e tu vens falar de brancos e pretos!?!?!? A sorte de STomé era passar a ser parte de Portugal de novo!!! Pois desde que é independente a coisa não para de piorar para a maioria - claro que há alguns "patriotas" que se dão e se deram muito bem na vida!

STomé não é uma nação e não é um país - é pura e simplesmente inviável...

Ass: Alguém preocupado com S. Tomé

Soba (Admin): Jykiti Wakongo»» said...

Sejalovadu "Alguém preocupado com STP"!

Quanto ao facto de falar de pretos ou de brancos ou até mesmo de passoas de olhos em bico não lhe diz respeito. Falo daquilo que me apetecer, onde, quando e como bem entender...

Lamento a sua falta de inteligência e escrúpulos. A ignorância latente faz com que diga disparates. STP na mão de brancos novamente? Para você ter que pedir licença para entrar na cidade? Ser preso por ir à busca dos seus direitos? Para trabalhar para o branco, onde ele com os seus filhos no trono a comer carne, a mandar bens para a Europa, enquanto você e todos pretos vão comendo peixe do programa "PAM" ou que o diabo amassou?

Você é um TRAIDOR, NEO-COLONIALISTA, ANTI-NEGRO! Por favor, aprenda conceitos de Nação, Estado e saiba que ÁFRICA PERTENCE AOS NEGROS, DOA A QUEM DOER!

Iyemanja zuda non,
Jykiti Wakongo